A
vantagem adventista
Larry Beeson
Seja um
simples rádio ou uma TV estéreo de tela grande, um liquidificador ou o último
carro — tudo que compramos vem com o manual de instruções. O fabricante espera
que você leia o manual antes de começar a usar sua nova aquisição. Você recorre
ao manual tão frequentemente quanto necessário a fim de compreender o mecanismo
e a operação do produto e para ter certeza que ele funciona melhor e dura mais
tempo.
Se assim
é com um simples liquidificador ou um carro, quanto mais cuidado devíamos dar
ao nosso corpo, talvez o sistema mais complexo que conhecemos?
A Bíblia
nos informa que “formou o Senhor Deus ao homem do pó da terra, e lhe soprou nas
narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente” (Gênesis 2:7,
RA). O Criador também nos deu Seu manual para o cuidado apropriado de nosso
corpo. Esse manual é a Bíblia e somos todos encorajados a lê-la para melhor
compreender a mordomia do corpo. Paulo diz: “Acaso não sabeis que o vosso corpo
é santuário do Espírito Santo...? Glorificai, pois, a Deus, no vosso corpo” (I
Coríntios 6:19 e 20). Além de outros significados que este verso possa ter, um
que interessa à nossa discussão é o que comemos e bebemos.
A
epidemiologia dos Adventistas do Sétimo Dia
Durante
as últimas décadas, organizações relacionadas com a saúde dentro dos Estados
Unidos e alhures (por exemplo, os Institutos Nacionais de Saúde, a Sociedade
Americana de Câncer, a Associação Americana de Cardiologia, o Departamento de
Saúde e de Serviços Humanos, a Organização Mundial da Saúde, etc.) têm fornecido
evidência epidemiológica do mundo inteiro quanto às características do estilo
de vida que promove saúde e detém o progresso da enfermidade. Parte desta
evidência vem de pesquisa sobre saúde entre adventistas do sétimo dia.
Pesquisas de saúde têm se concentrado nos adventistas por duas razões.
Primeira, eles tendem a ser mais homogêneos em muitas escolhas de estilo de
vida, tais como a abstenção de álcool e tabaco. Segunda, são mais heterogêneos
em hábitos de nutrição: são geralmente vegetarianos (nada de produtos animais
na dieta) ou lacto-ovo-vegetarianos (cuja dieta inclui lacticínios e ovos, mas
não carne). Mais de 250 artigos científicos têm sido publicados ao redor do
mundo sobre a vantagem adventista em matéria de saúde. A maior parte do que é descrito
abaixo se refere à pesquisa conduzida por cientistas da Universidade de Loma Linda sobre adventistas da
Califórnia. Resultados semelhantes, porém, têm sido publicados quanto a
adventistas na Noruega, Holanda, Polônia, Dinamarca, Japão, Austrália e outros
países.
O Estudo
da Mortalidade Adventista
O
primeiro principal estudo epidemiológico dos adventistas começou em 1958. É
conhecido como o Estudo de Mortalidade Adventista, envolvendo 22.940
adventistas não hispânicos, brancos, residindo na Califórnia. Um Os resultados
deste estudo sobre os adventistas foram comparados a um estudo semelhante de não
adventista efetuado pela Sociedade Americana de Câncer durante o mesmo período
de tempo. Ambos os estudos envolveram voluntários na Califórnia que eram relativamente
bem educados comparados à média dos californianos. Ambos os estudos obtiveram
cópias de certidões de óbito de participantes no estudo que tinham morrido
durante os anos subsequentes aos da pesquisa. As similaridades entre estes dois
grupos eram importantes porque se descobriu que indivíduos que se oferecem para
tais estudos tendem a ter melhor saúde que a população geral, e as pessoas das
classes econômicas mais altas tendem a ter proporções mais baixas de
enfermidade em geral. Assim, o Estudo da Mortalidade Adventista e o Estudo da
Sociedade Americana de Câncer forneceram uma comparação razoavelmente boa entre
adventistas e não adventistas.
A
comparação revelou o seguinte: Se a mortalidade por câncer no Estudo da
Sociedade Americana de Câncer era 100, a mortalidade entre adventistas era de
60 para homens e 76 para mulheres. Isso significa que depois de ajustar para
diferenças nas distribuições de idade nos dois estudos, os homens adventistas
tinham um índice de mortalidade por câncer significantemente mais baixo para um
grupo de certa idade comparado ao que se podia esperar de um grupo semelhante.
Isto significa que homens adventistas ainda morriam de câncer, mas numa idade
muito mais avançada do que os homens não adventistas. O mesmo pode ser dito de
mulheres adventistas. Visto não haver razão a priori para crer que os
adventistas da Califórnia fossem geneticamente diferentes dos não adventistas,
a hipótese é que uma ou mais caraterísticas de estilo de vida ou influências do
ambiente podem ser responsáveis pelo atraso na morte por câncer.
Visto que
o fumar tem sido comprovado ser um fator importante em causar câncer,
pesquisadores do Estudo de Mortalidade Adventista compararam os índices de
mortalidade de não fumantes de ambas as populações. Como era de esperar, os
índices de mortalidade destes não adventistas eram mais próximos aos dos
adventistas. Contudo, uma vantagem para os adventistas sempre persistia que não
podia agora ser explicada por diferenças no uso de tabaco no passado. Assim,
outras caraterísticas dos adventistas, fora sua condição de não fumantes, tais
como dieta e talvez apoio social, são igualmente importantes em reduzir o risco
de enfermidade.
Os
adventistas também pareciam ter um adiamento de mortes cardiovasculares. Se o
índice de morte por enfermidade do coração no estudo da Sociedade Americana de
Câncer é considerado como 100 por cento, então os homens adventistas
apresentavam apenas 66 por cento do que era de se esperar.
Mulheres adventistas
mostraram apenas uma pequena redução, com 98 por cento. Homens adventistas
também morrem de enfarte, mas seu índice de mortalidade é de apenas 72 por cento
comparados aos não adventistas. Para mulheres adventistas, sua mortalidade por
enfarte era de 82 por cento do de não adventistas.
Portanto,
segundo estes estudos, é bem evidente que o estilo de vida adventista provê
alguma proteção contra o câncer e outras moléstias fatais. Mas diferenças em
índices de mortalidade entre adventistas e outros podem ser devidas a pelo
menos dois fatores: (1) Os adventistas podem apanhar uma doença específica na
mesma proporção que os outros, mas sobrevivem mais tempo com a doença por causa
de melhor acesso a cuidado médico ou um sistema imunológico superior ou um
melhor estilo de vida; e/ou (2) os adventistas realmente adoecem em proporção
menor do que os não adventistas. Pode ser que ambas as possibilidades
contribuam aos índices de mortalidade mais baixos observados entre adventistas.
Mas estudos de mortalidade como o de Loma
Linda não podiam resolver a questão. O Estudo de Mortalidade Adventista
levantou várias questões interessantes. Que havia em seu estilo de vida que
permitia aos adventistas viver mais tempo? Teriam as diferenças em estilo de
vida adventista por si mesmo produzido diferente riscos para contrair doenças
específicas tanto fatais como não fatais?
O Estudo
de Saúde Adventista
O Estudo
de Saúde Adventista é o segundo estudo importante de adventistas na Califórnia.
Subsidiado pelo Instituto Nacional de Câncer e pelo Instituto Nacional de
Coração, Pulmão e Sangue, o estudo começou em 1974 e foi dirigido pelos
pesquisadores da Universidade de Loma
Linda. O estudo incluía a incidência (isto é, novos casos) de câncer e
doença do coração na pesquisa sempre em expansão do estilo de vida adventista
que permite aos adventistas ter uma “vantagem em matéria de saúde”. À
semelhança do outro estudo, certidões de óbito foram obtidas para documentar a
causa de morte dos membros que morreram durante o estudo. Registros
hospitalares foram usados para todos os casos não fatais. O índice de resposta
de brancos, não hispânicos, ao questionário sobre estilo de vida enviado por
correio foi o mais elevado de todos os grupos étnicos e totalizou 34.198. Esse
grupo tornou-se a porção do “estudo de incidênada” dois para descobrir que
componentes do estilo de vida adventista deram proteção contra a enfermidade.
Não tinha
sido seu objetivo comparar os índices de incidência de enfermidade ou
mortalidade entre adventistas e não adventistas. Foi planejado principalmente
para descobrir variações em estilo de vida entre os próprios adventistas e como
estas variações se traduziam em mudanças de risco de enfermidade.
Esta
pesquisa acrescentava também uma investigação detalhada de dieta comparada com
o questionário da Sociedade Americana de Câncer de 1960 usado pelo Estudo de
Mortalidade Adventista. Além disso, seu questionário incluía perguntas sobre o
histórico médico antecedente, terapia de drogas, atividade física e uma
variedade de perguntas psicossociais. Quando a coleta dos dados foi concluída,
32 mil hospitalizações (por qualquer razão) tinham sido declaradas
representando mais de 18 mil participantes diferentes. Dos hospitais
envolvidos, 698 eram na Califórnia e 960 eram fora do estado. Todos esses
hospitais foram contatados no estudo subseqüente de seis anos de todos aqueles
que completaram o questionário básico de estilo de vida.
Um perfil
básico da população do Estudo de Saúde de Adventistas mostrava uma idade média
de 51 anos para homens e de 53 para mulheres. A proporção de pessoas que tinham
sido diagnosticadas por um médico como hipertensas era próxima do que se podia
esperar para uma população adulta. Embora um número modesto de pessoas admitiu
ter fumado antes — geralmente antes de se unir à Igreja Adventista — não havia
praticamente fumantes atuais na população. Uma proporção relativamente grande
pretendia fazer exercício com frequência moderada. A população sob estudo,
composta de 60% de mulheres, tendia a ser bem instruída. Um pouco mais da
metade dos participantes na pesquisa disse que comia carne menos de uma vez por
semana. A maioria era lacto-ovo-vegetariana.
Influência
do estilo de vida
Que
revelaram esses estudos sobre a influência do estilo de vida na redução de
índices de enfermidade e de mortalidade?
Câncer do pulmão. De longe o maior risco de
câncer do pulmão é o contato crônico com fumaça de tabaco, tanto de fumantes
ativos como de fumantes passivos ou de segunda mão. Trabalhar ou viver com um
fumante foi demonstrado aumentar a probabilidade de uma pessoa contrair câncer
do aparelho respiratório. O estudo de saúde de adventistas demonstrou3 que
indivíduos podiam ainda mais reduzir sua probabilidade de desenvolver câncer do
pulmão não só diminuindo a exposição à fumaça de tabaco, mas também incluindo
em sua dieta uma variedade de frutas, muitas das quais contêm componentes (por
exemplo, vitaminas antioxidantes) considerados capacitadores do corpo para
combater o câncer. Adventistas que consumiam frutas duas ou mais vezes por dia
tinham apenas 25 por cento de probabilidade de adquirir câncer do pulmão
comparado aos indivíduos que consumiam fruta menos de três vezes por semana.
Esta vantagem de saúde pelo consumo de frutas foi observada em adventistas que
tinham deixado de fumar anteriormente bem como em adventistas que nunca tinham
fumado.
Câncer da próstata. Segundo estimativa, 4 29 por
cento de todos os novos casos de câncer diagnosticados entre homens americanos
em 1998 tinham que ver com a próstata, e a incidência desta enfermidade têm
crescido durante as últimas décadas. Relações altamente protetoras foram
observadas5 em homens adventistas que consumiam quantidades moderadas de
legumes (tais como feijão, lentilhas, ervilhas), frutas cítricas frescas, fruta
seca (por exemplo, passas e tâmaras), e tomates.
Câncer da mama. Em meados da década de 1980,
câncer do pulmão ultrapassava o câncer da mama, sendo o câncer mais comumente
diagnosticado em mulheres americanas. 6 Contudo, nas populações não-fumantes,
como a dos adventistas do sétimo dia, o câncer da mama é ainda o câncer mais
comumente diagnosticado. Os fatores de risco conhecidos para o câncer da mama
incluem: crescente contato com estrogênio e/ou hormônios do tipo progesterona,
menstruação precoce, menopausa tardia e obesidade em mulheres após a menopausa.
Fatores que podem proteger quanto à incidência de câncer da mama incluem: menor
contato com estrogênio ou hormônios do tipo progesterone, primeira gravidez em
idade jovem, lactação e atividade física. No estudo de saúde adventista, as
mulheres que faziam exercício vigoroso tinham uma redução de 21 por cento no
risco de câncer da mama e um atraso médio de 6.6 anos na idade na qual este
câncer é diagnosticado comparado às mulheres que exercitavam pouco7. A
inatividade física teve mais importante efeito sobre a idade em que o
diagnóstico é feito do que sobre o risco em todo o período de vida. O efeito
protetor da atividade física sobre o risco de câncer da mama é mais pronunciado
em idade mais jovem, pois os benefícios do exercício não foram vistos
claramente em mulheres de pós-menopausa.
Câncer da bexiga. Fumar cigarro é um forte fator
de risco para câncer da bexiga. Adventistas que tinham fumado antes de se
unirem à igreja tinham duas vezes maior risco de câncer da bexiga, comparado
àqueles que nunca fumaram. Investigadores anteriores notaram maior risco de
câncer da bexiga em pessoas com consumo elevado de alimentos cárneos.
Aproximadamente 50 por cento dos participantes no estudo de saúde de
adventistas eram ovo-lacto-vegetarianos. Adventistas que evitavam carne, aves e
peixes tinham menos da metade do risco de câncer da bexiga, comparados àqueles
que comiam estes alimentos três ou mais vezes por semana. 8
Câncer do pâncreas. O Estudo da Saúde Adventista
observou que aumentando o consumo de legumes, frutas secas, e produtos de
proteína vegetal (tais como soja, gluten e nozes) diminuía de modo
significativo o risco de câncer do pâncreas. 9
Outros cânceres. O mesmo estudo investigou
outros cânceres (do cólon10, do cérebro e das meninges cranianas11, de leucemia
e de mieloma12) e observou que os indivíduos que seguiam o “estilo de vida
adventista” mais de perto eram os que tinham menor probabilidade de adquirir
qualquer das enfermidades crônicas investigadas.
Enfermidade do coração. Este estudo não só investigou a
relação entre vários hábitos de vida e cânceres incidentais e fatais, como
também buscou fatores relacionados com enfermidades do coração. Uma fascinante
descoberta que tem sido repetida por pesquisadores em outras populações foi a
do consumo frequente de nozes cinco ou mais vezes por semana (uma mão cheia de
cada vez) estar associado com um número substancialmente menor de casos fatais
de enfermidades do coração e enfartes do miocárdio (ataques do coração) não
fatais, comparados àqueles que consomem nozes menos de uma vez por semana.13
Entretanto, visto as nozes serem ricas em gordura, consumir grandes quantidades
pode não ser tão benéfico.
Adventistas
que comiam principalmente pão integral experimentavam uma redução de 40 por
cento no risco de ataque do coração, comparados àqueles que comiam mais pão
branco. Havia também mais do que o dobro de risco de ataque do coração entre
homens que consumiam carne pelo menos três vezes por semana, comparados aos
vegetarianos. Adventistas que exercitavam regularmente 15 minutos ou mais pelo
menos três vezes por semana experimentavam uma redução significativa no risco
de morrer de ataque do coração.
A pirâmide guia da alimentação
vegetariana
Baseadas
em evidência epidemiológica internacional das últimas décadas, que inclui o
resultado de estudos de adventistas, as organizações relacionadas com a saúde
ao redor do mundo têm advogado um estilo de dieta que visa diminuir o risco de
câncer, doenças do coração e outras doenças crônicas.
A pirâmide guia da
alimentação (ver ilustração) mostra a contribuição relativa dos diferentes
alimentos. Na base da pirâmide estão os pães integrais e cereais. Em seguida
vêm as frutas e vegetais. Muita gente não come o suficiente destes alimentos
que têm muitos elementos protetores como as vitaminas. No nível seguinte da
pirâmide estão os alimentos que provêm proteínas e minerais. Necessitamos de
porções menores destes. Finalmente, no ápice da pirâmide estão os doces,
gorduras e óleos, dos quais precisamos bem pouco.
Se estas
recomendações são de fato úteis na redução de enfermidades crônicas, então
parece lógico que devíamos observar uma redução dessas doenças numa população
que tem seguido esses princípios por mais de cem anos. E é exatamente isso que
descobrimos nos estudos entre os adventistas do sétimo dia.
A
iniciativa é sua
Há mais
de 100 anos Ellen G. White, uma das
fundadoras da Igreja Adventista do Sétimo Dia, fez a seguinte observação: “A
saúde é um tesouro. É de todas as posses temporais a mais preciosa. Riqueza,
ilustração e honras são adquiridas ao elevado preço da perda do vigor da saúde.
Nada disso pode assegurar felicidade, se falta a saúde”.14 Prevenir a
enfermidade tem mais sentido do que seu tratamento. Não permita que sua Bíblia
se cubra de poeira. Leia seu “manual de instruções” e descubra qual era a
intenção do Planejador Mestre para você.
Larry Beeson (Doutor em Saúde
Pública, pela Universidade de Loma Linda) leciona epidemiologia e
bioestatística na Escola de Saúde Pública e na Escola de Medicina da
Universidade de Loma Linda. Ele fez parte da equipe de pesquisa do Estudo de
Saúde Adventista desde o seu início. Endereço postal: School of Public Health,
Loma Linda University, Loma Linda, California 93350, E.U.A. Endereço e-mail:
lbeeson@sph.llu.edu
Adventists”, Neuroepidemiology